top of page

Minha história com os videogames                                          por: Matheus Lizardo

    O que não falta são relatos de pessoas que tiveram algum tipo de ajuda enquanto jogavam videogames, e vou tomar a liberdade de deixar meu relato pessoal aqui também. Eu lembro como se fosse ontem quando eu tive meu primeiro console de videogame, foi um PlayStation 1, e nele eu passei horas me divertindo, como os outros relatos, aprendi sim muito de inglês nos jogos, quando efetivamente entrei em um curso de idiomas, me recomendaram que eu já começasse em um nível mais avançado. Mas, além disso, eu desenvolvi um raciocínio voltado para a área de estratégias graças aos jogos de RPG, quando eu me deparei com Final Fantasy, foi amor à primeira vista, todo aquele mundo fantástico com poderes e criaturas, com duelos onde não só sua habilidade era testada, mas também sua capacidade de bolar estratégias, o que me fez desenvolver esse pensamento calmo, analisar certos desafios que você vai enfrentar e se preparar para lidar com eles.

    Outro jogo que teve um papel importante nesse quesito foi o Yu-Gi-Oh Forbidden Memories, ele é um TCG virtual com uma grande variedade de cartas, que me permitiam ter as mais variadas estratégias contra os meus oponentes- se você já jogou, com certeza se lembra da fusão para formar o Twin-headed Thunder Dragon logo no começo do jogo- que ficavam cada vez mais difíceis. Essa dificuldade também sempre me chamou a atenção nos games, como um desafio a ser superado e ter uma sensação gratificante ao vencer esse desafio, mas esse assunto fica para daqui a pouco.

Foi também através dos videogames que tenho boas memorias com minha família, lembro-me das noites que meu pai chegava em casa do trabalho e ficava jogando Gran Turismo enquanto eu assistia, ou mesmo minha mãe, que adorava o Bubble Bobble no nosso Master System. Tive dois tios que também adoravam videogames, e devido a isso tive ótimos momentos em família com eles também, sem contar o meu irmão mais novo, que nos aventuramos em diversos mundos através dos games. Ainda hoje os games trazem momentos ótimos para a minha vida, como ter a oportunidade de conhecer e conversar com pessoas novas, como fiz para as entrevistas nesse trabalho, ou mesmo mais familiares ainda, como jogar Lego Harry Potter com minha namorada nos finais de semana.

     Como eu disse os games não tiveram uma importância só na minha infância, na adolescência eles também foram peças importantes para minha vida. Em torno dos meus dezesseis anos de idade eu fui diagnosticado com Síndrome de Borderline, que basicamente torna a pessoa depressiva e com variações de humor constante, bem como baixa autoestima. Nessa época, eu conheci mais um jogo de RPG chamado Dark Souls, que ficou famoso por ser um dos jogos mais difíceis já feitos, claramente eu me interessei por esse desafio e decidi comprar. Para minha surpresa, o jogo não é apenas rico em detalhes de narrativa, jogabilidade e arte, é também uma mensagem, pelo menos para mim foi.

    Dark Souls é um jogo melancólico, como se fosse uma caricatura da depressão, é um jogo com inimigos extremamente desafiadores sem opção de ser jogado no “easy” e por conta disso te obriga a enfrentar um desafio após o outro, parecido com a vida real não é mesmo? Fato interessante é que caso você seja derrotado no jogo, você não morre, e sim retorna para seu último lugar de descanso para se levantar e tentar mais uma vez, e pela dificuldade alta do jogo, o seu sentimento de recompensa e de dever cumprido é mais forte quando você vence o desafio proposto pelo jogo, é gratificante e animador. Pode parecer só mais uma mecânica de jogo, mas para mim, foi uma alegoria de persistência, de nunca desistir, não importa o quão tortuoso e difícil seja o caminho, a vida não é fácil, mas desistir dela não pode ser uma opção. Essa didática que eu extraí de aprendizado de Dark Souls foi levada para minha vida pessoal, e foi de extrema importância para vencer a minha luta contra a depressão.

     Essa não foi a única vez que os games me ajudaram em aspectos de minha vida pessoal, houve uma época onde eu tive diversas desavenças com meu irmão mais novo, nós chegamos a nos afastar devido a essas brigas, e ficamos cerca de um ano com uma relação complicada. Em junho de 2020 foi lançado The Last of Us parte II, e eu estava ansioso por esse lançamento como a maioria das pessoas que gostavam de videogame, e assim que o jogo foi lançado eu mergulhei novamente naquela história pós-apocalíptica.

     The Last of Us rejeita apresentações, é considerado por muitos o melhor jogo já feito na história, mas caso você não conheça o enredo do jogo, será necessário um pequeno resumo. O jogo se passa em um futuro onde a humanidade quase se extinguiu por completo por conta de um vírus (pois é, impossível de não associar com o que vivemos na pandemia não é mesmo?) e devido a isso as pessoas são obrigadas a viver da maneira que puderem naquele mundo cheio de perigos. A parte importante para esse meu relato é como as relações entre os personagens se desenvolvem nesse mundo, a narrativa é um dos inúmeros pontos fortes da obra.

     A relação entre os dois protagonistas, Joel e Ellie, é o que move a trama do jogo, a partir daqui haverá spoilers para você que não jogou então leia por sua conta e risco. No final do primeiro jogo, lançado em 2013, é descoberto que Ellie poderia ser a cura para o vírus que assolava a humanidade, porém perderia sua vida no processo. Joel, que se tornou como um pai para a jovem, não permitiu que isso acontecesse, e mentiu para a garota dizendo que não havia cura. Anos se passam e a verdade acaba vindo à tona, os dois discutem e passam anos sem se falar, porém devido a um episódio onde Ellie sofre um ataque homofóbico, Joel defende sua filha e os dois fazem as pazes. O único problema é que uma noite após isso, Joel é morto por um grupo que buscava vingança do protagonista.

    Esse choque me fez repensar como as relações que temos com as pessoas são importantes, e como o tempo é curto demais para nos afastar de quem amamos. E onde eu quero chegar com isso? bom, como eu disse, eu e meu irmão não estávamos com uma boa relação, e depois de vivenciar perder alguém importante no role-play de um jogo, também passei esse aprendizado para a minha vida pessoal, e eu e meu irmão definitivamente fizemos as pazes.

   Games por muitas vezes tratam de assuntos reais em suas narrativas, e como disse isso é interessante de diversos pontos de vista. Por exemplo, o próprio The Last of Us Parte II sofreu duros ataques homofóbicos antes mesmo de seu lançamento por em um dos trailers mostrar a protagonista Ellie, beijando outra garota. No game, o relacionamento amoroso de Ellie e Dina também é de extrema importância para a narrativa e reforça como a representatividade é necessária e real.

     O role-play também é bastante importante nesse tema, famoso nos RPGs de mesa como Dungeons & Dragons também ocorre nos games virtuais. O role-play consiste em você “atuar” dentro da história em que está inserido e agir de acordo com ela, enquanto você esta no jogo, você passa a agir de acordo com a personalidade de seu personagem ao invés da sua, o que deixa sua experiência muito mais imersiva. Entre vários jogos imersivos que já joguei, Red Dead Redemption 2 certamente foi o melhor de todos, poderia citar outros aqui mas nesse caso essa matéria ficaria infinita. Assim como foi o caso de The Last of Us Parte II, a sequência de Red Dead Redemption também foi algo que eu esperei ansiosamente por muitos anos, já amava o primeiro jogo, porém o segundo mexeu mais ainda comigo. No game de 2018, nós entramos na pele de Arthur Morgan, um fora-da-lei do velho oeste que faz parte de uma gangue que está mais para uma família, onde muitos ali são pessoas que não tiveram lá muitas escolhas na vida e buscam sair dessa situação. O jogo de mundo aberto te permite ser a pessoa que você quer ser dentro dele, você pode ser um caubói honrado, ou um bandido, o jogo te dá essa escolha, que interferem diretamente tanto na história, quanto na sua gameplay.

    Vale lembrar que estamos falando de uma história de Velho Oeste, ou seja, é um jogo bastante violento, com tiroteios acontecendo a todo o momento. Caso você opte por ser uma pessoa ruim dentro do jogo, o próprio game te pune por isso, ao ponto de ficar “injogável”, você não vai conseguir andar de cavalo pelo mapa pois as autoridades e caçadores de recompensa estarão te caçando, e lojistas irão fechar as portas para você, além de você ter um final nada agradável. Já se você optar por ser uma boa pessoa dentro do jogo, você vai ter isso recompensado também, comerciantes te darão descontos, você poderá interagir mais com aquele universo, e terá o final menos pior, se você já jogou sabe do que eu estou falando.

     Red Dead Redemption 2 é um jogo sobre consequências, onde o protagonista Arthur Morgan quer deixar a vida de fora-da-lei, quer ajudar os membros da gangue Van der Linde que são pessoas boas e estão ali sem perspectiva de vida. O jogo te passa o ensinamento desse ponto de vista, você pode aprender uma coisa ou outra sobre redenção no game, e pode ter certeza que por jogar ele você não vai arranjar um revólver e sair duelando com os outros na rua estilo Clint Eastwood.

    Aqui você pode conferir todas as entrevistas na íntegra. Caso você também queira compartilhar suas experiências com games, envie seu depoimento para matheuslizardo@outlook.com e mostre como o videogame impactou na sua vida

Entrevistas na íntegra

por: Matheus Lizardo
Conversa com Andrey Martim
Conversa com Blader Koyotte
Conversa com Hellen Tsuruda
Conversa com Paulo Ferreira
Conversa com Pedro Voltera
Conversa com Raphael Xavier
Conversa com Wesley Pereira

Confira as fotos

Mantenha-se atualizado

Obrigado pelo envio!

  • Ícone do SoundCloud Branco
  • Ícone do Facebook Branco
  • Ícone do Twitter Branco
  • Ícone do Instagram Branco
  • Ícone do Youtube Branco
bottom of page