
SÓ CONHECI MEUS ÍDOLOS POR CAUSA DA PANDEMIA
Foto: Amanda Caldas
Como o distanciamento social e a tecnologia trouxe aos fãs de k-pop a oportunidade de conhecer e interagir com seus artistas favoritos
por: Amanda Caldas
Você já teve a oportunidade de conversar com o seu ídolo cara-a-cara antes do COVID-19? Chegou a ir a shows do mesmo ou algum evento onde ele esteve presente? E durante a pandemia, você conseguiu manter contato com o artista que tanto admira? Se a sua resposta foi sim, parabéns! Você com certeza tem memórias muito preciosas desse momento. Mas, se a sua resposta foi não, gostaria de dizer que é possível que uma oportunidade surja muito em breve.
Pode parecer meio estranho ouvir isso, eu sei, principalmente se você for fã de artistas asiáticos, que estão literalmente do outro lado do mundo. No entanto, a pandemia causada pelo coronavírus trouxe para o ramo do entretenimento muitas mudanças que com certeza serão aplicadas em shows e eventos pós-pandemia também.
Durante os períodos de isolamento e distanciamento social diversas interações virtuais surgiram. Shows com plateia virtual, eventos de vídeo chamada e lives ganharam destaque e mostraram que se depender do fã, os eventos virtuais vão acontecer sempre!
Mesmo que em quantidade reduzida e com baixa variedade de artistas, produtoras nacionais de shows passaram a promover eventos de vídeo chamada e interações on-line com artistas sul-coreanos. Portais de notícias, youtubers, tiktokers e influencers de outras redes passaram a produzir com maior incidência conteúdos que envolvessem artistas sul-coreanos. O Tiktok também permitiu que músicas e produções coreanas ganhassem reconhecimento em escala global, uma vez que basta uma trend ficar famosa para que todos dancem a mesma música.
De forma geral, uma interação perfeita é aquela onde os fãs podem ser notados e, de preferência, possam falar diretamente com os artistas. Por isso, ela, a queridinha do momento e super disputada, vídeo chamada ganhou força e avisou que veio para ficar.
Reprodução autorizada: Acervo pessoal dos entrevistados
Como participar de uma vídeo chamada com k-idols? #GooglePesquisar
Esse é um tutorial que infelizmente você não encontra por aí. No entanto, aqui no Brasil, algumas produtoras adotaram as vídeo chamadas e fizeram alguns eventos do gênero, porém a diversidade de artistas é limitada, então você acaba tendo de contar com a sorte para que o seu favorito seja o próximo a realizar um evento com fãs brasileiros.
Lá fora, porém, plataformas e sites para concorrer e participar de vídeo chamadas não faltam. O que falta, às vezes, são os recursos financeiros, já que para concorrer ao evento você geralmente tem de comprar álbuns para ganhar cupons e talvez ser agraciado com a oportunidade de conhecer o artista que tanto gosta.
É claro que existem eventos que não estão atrelados à venda de álbuns como participar das plateias virtuais em festivais de natal ou ano novo, por exemplo. Ou se inscrever como para participar como público virtual no telão da kcon e shows do gênero, porém eventos assim são feitos em menor quantidade e com pouca ou quase nula divulgação de informação sobre como participar. Então, o que restou, foi poupar dinheiro e tentar a sorte durante o comeback dos artistas.
Quando eu digo poupar dinheiro, eu quero dizer, poupar dinheiro MESMO! Participar de uma vídeo chamada internacional exige conhecimentos básicos em inglês, uso de ferramentas de pagamento internacional e noções sobre cotação do dólar e taxas internacionais. Aqui no Brasil a relação dólar X real é de um para seis, ou seja, um dólar vale quase seis reais. Então, considerando que o valor base para álbuns é no mínimo 11 dólares mais envio, tentar a sorte numa vídeo chamada não deve custar menos do que R$70,00 por álbum.
Ok, mas vamos falar sobre como é a video chamada via compra de álbuns? Nessa modalidade, cada álbum comprado gera um cupom de sorteio para a call. Porém, isso não quer dizer que a quantidade de álbuns é uma garantia certa de que você conseguirá, afinal, sorteio é sorte. Durante o desenvolvimento do meu TCC eu pude conversar com diversas pessoas que participaram de eventos de vídeo chamadas por compra de álbuns, uma delas, a Simone, disse:
“Eu participei de duas videochamadas com o Ateez, a primeira foi em setembro de 2020 e a segunda foi agora em abril, em 2021. E é assim, as lojas oferecem cupons pela compra de álbuns e você vai comprando para tentar ganhar né. Na primeira foram 90 álbuns e na segunda vez foram cerca de 70 álbuns comprados com o meu dinheiro e mais alguns que uma amiga comprou junto para me ajudar, o que totalizou uns 100 álbuns no final.”
Enquanto eu, a criadora deste conteúdo, tive a oportunidade de participar de uma vídeo chamada comprando apenas um único álbum. No meu caso, foi pura sorte mesmo. Um amigo queria comprar numa loja coreana e para dividirmos os custos de envio eu peguei o 1º mini-álbum da AleXa com o pensamento de que “se for para ser, será” e foi!
Reprodução autorizada: Acervo pessoal dos entrevistados
É claro que numa segunda oportunidade eu tentei novamente, dessa vez, comprei seis álbuns e não consegui. Embora eu tenha ganhado uma polaroid autografada no evento, a vídeo chamada, que era o meu objetivo, eu não consegui. E cheguei a tentar também a chamada de outros artistas, como o Oneus, comprando 18 álbuns e também não consegui.
Por outro lado, houveram pessoas que ganharam diversos tipos de interações com k-idols. A Mônica, pôde conhecer vários artistas: “Eu participei do fansing do VAV, acabei ganhando uma vídeo chamada com eles também. Participei de video calls pagas, organizadas por produtores brasileiros como a do KARD e do Woosu. A vídeo chamada com o VAV, ganhei por sorteio e, no meu caso, ganhei pois fiz a compra do meu season greetings numa CEG e a organizadora da compra não quis a call, como eu era a primeira na lista de compradores, ela ofereceu para mim.”
As CEGs (Compras Em Grupo), são uma alternativa caso você não tenha condições de comprar uma grande quantidade de álbuns e mesmo assim queira concorrer a vídeo chamada internacional. Nesse caso, o ideal é que você busque lojas brasileiras que sejam especializadas na compra massiva de álbuns e tenham lista de prioridade em caso de ganharem o ticket dourado para vídeo chamada.
Se depois de ler até aqui e entender um pouquinho melhor sobre o funcionamento e participação da vídeo chamada através de lojas internacionais vocês decidir que prefere esperar e tentar a sorte com produtores nacionais, saiba que não adianta sentar e cruzar os braços torcendo para que magicamente o produtor de ouça e faça o evento com o artista que você gosta. Neste momento, passa a ser seu papel interagir com as produtoras constantemente e pedir incansavelmente pelo artista. E divulgue ele também, quanto mais gente interessada tiver, maiores serão suas chances de poder conhecê-lo.
Desde o início da pandemia, foram realizados cerca de 10 eventos de vídeo chamada com artistas coreanos. Alguns já eram conhecidos pelo público brasileiro e outros nem tanto, como o grupo feminino ICU, que participou da Hallyucon 2021 e após conquistar vários corações anunciou evento de vídeo chamada com fãs brasileiros. Ou como o grupo masculino DIOS, que nem estreou ainda mas já atraiu atenção de muita gente por aqui e garantiu um evento de call com os fãs em dezembro
Os valores desse tipo de evento aqui no Brasil costumam variar muito. Por não serem atrelados a um produto físico tabelado, o preço dos ingressos acaba sendo definido com base na oferta X demanda de público e na popularidade do artista. O DIOS, por exemplo, está vendendo ingressos a aproximadamente R$40,00 para três minutos de conversa 1:4 (um fã para quatro membros). Enquanto outros artistas, como o KARD, teve ingressos com valor superior a R$100,00 para uma interação máxima de 2 minutos no sistema 1:4 também.
“Poder conversar com o KARD via vídeo chamada foi magnífico pois eu acompanho o grupo a alguns anos e nunca tive a oportunidade de ter um contato direto com eles. O KARD é o meu grupo favorito e na call eu pude conversar, perguntar algumas coisas, pude fazer tudo que eu provavelmente não conseguiria fazer pessoalmente por conta do nervosismo. Eu achei o valor um pouco caro pelo tempo, que foram dois minutos cada sessão, mas se for parar para pensar, tinha um tradutor pra ajudar, então talvez tenha sido ok. Num futuro, dependendo do valor, eu participaria de um evento virtual novamente.” Túlio Lopes em entrevista para a Converpop.
Ok, então até aqui você já sabe que pode conversar com seu artista favorito comprando o ingresso de vídeo chamada quando um produtor nacional anunciar o evento para fãs brasileiros, ou tentar a sorte ao comprar álbuns e ganhar cupons de sorteio. Então segue comigo que eu ainda tenho muita coisa bacana para te contar.
Reprodução autorizada: Acervo pessoal dos entrevistados
Com o avanço global da vacinação contra o coronavírus, as restrições impostas para impedir a propagação do COVID-19 passaram a ser cada vez mais flexibilizadas e, com isso, a liberação de eventos e shows passou a ser feita de forma gradual conforme aumento na porcentagem de vacinados. Em São Paulo, por exemplo, já não há mais restrições para realizações de shows e eventos!
Produtores nacionais apontaram que num cenário pós-pandemia, a tendência é de que as produções culturais passem a ser híbridas, de forma que os artistas venham ao Brasil, realizem eventos presenciais como shows, fansings, fanmeetings e não fiquem limitados ao espaço físico das casas de show presencial, realizando então eventos de video chamada para que fãs de localidades não contempladas pela turnê possam interagir e participar.
“Acredito que o pessoal vai voltar com tudo. Muitos shows, muitos eventos, muito de tudo, tanto no formato tradicional, como num misto. Acredito que as produtoras irão aderir a uma produção híbrida, onde o artista vem para a turnê, realiza eventos presenciais e realiza eventos virtuais. Esse hibridismo vai permitir que mais pessoas sejam alcançadas. Aqueles que não podem ir por não terem idade, as que não possuem condições de ir em shows em outras cidades e etc, sabe? Esse novo formato vai permitir que todos participem”. Patrícia Kazys, CEO da Far Music Entertainment.
Legal, né? Então, muito em breve, mesmo que seu artista favorito venha ao Brasil realizar shows e você não possa comparecer presencialmente, você poderá participar de forma virtual numa experiência única por um tempo, talvez, até maior do que aqueles que pagaram para ver ao vivo.
E se engana quem pensa que acaba por aqui. A tendência agora é que o virtual faça parte do cotidiano nas interações entre fãs e artistas. O metaverso passará a ser uma constante na vida do ser humano, e com isso, as relações que ele trás, também. Um claro e simples exemplo do que vem por aí são os avatares AE que as integrantes do AESPA possuem. Os personagens possuem universo próprio, participam dos vídeo clipes do grupo e até mesmo possuem merchandising.
Além disso, grupos e influencers IA (Inteligência Artificial) estão cada vez mais famosos.No Brasil, os mais conhecidos são a Lu do Magalu, a Nat da Natura e o CB das Casas Bahia, que interagem constantemente com o público através das redes sociais. Porém, no k-pop, já é possível encontrar grupos completos com quatro ou cinco membros que além de interagirem constantemente com os fãs, gravam covers e até mesmo lançam músicas autorais. E os artistas feitos em IA não estão limitados à aparência humana, como o idol virtual Apoki que se intitula como uma coelha de outro planeta e possui mais de 40 mil seguidores do Instagram.
A pandemia acelerou o processo de interação através do virtual. Algo que vinha acontecendo de forma lenta e gradativa passou a ser ter maior incidência pela necessidade de permanecermos perto daqueles que gostamos e queremos bem. Como fãs, compreendemos que estar com os artistas que admiram já não depende mais de uma visita presencial do mesmo, uma tela basta. As empresas e produtoras aprenderam na raça que mudanças são necessárias e muitas vezes acontecem quando não estão preparados e que, no virtual, a cobertura de rede é o limite. Um evento que antes só poderia acontecer presencialmente, agora pode acontecer de forma virtual e existem dezenas de possibilidades de realizações ligadas a ele.
Há quem diga que num futuro não muito distante nós poderemos interagir uns com os outros via hologramas, algo que até então só acontece nos filmes futuristas e de ficção científica. Mas enquanto isso não acontece, vamos fazer bom uso do que temos hoje e aproveitar cada oportunidade que surgir para estar com artistas e pessoas que admiramos.