
Fanfics: realidades alternativas
A maravilhosa habilidade de criar mundos na ponta dos dedos
Por Beatriz Manzolino
É uma verdade universal que o ser humano precisa da arte. Precisamos estar em contato com música, literatura ou pinturas. Pelo menos uma vez por semana é necessário ver um filme e desligar a mente, ler um livro antes de dormir para ter a sensação de paz. Enfiar os dedos dentro da tinta e passar pelo papel, abrir o bloco de notas e escrever um pouco ou rabiscar tudo. É clichê, mas nós precisamos de arte ao longo da vida.
A literatura é um dos tipos de arte mais consumidos e antigos, o homem sempre gostou de criar e inventar novas realidades, um exemplo é o personagem do Sir Arthur Conan Doyle, o detetive Sherlock Holmes foi publicado ao longo de 40 anos, suas aventuras desvendando crimes se tornou uma figura tão real e atrelada a cultura popular mundial, que até hoje muitas pessoas não sabem que ele é um personagem totalmente fictício. Hoje em dia, há um potencial de fixar tão fundo na cultura popular que a partir deles muitas transmídias são feitas, como mangás, jogos, filmes, séries de tv, e histórias inventadas por fãs, as chamadas fanfiction.
Pode até pensar que não conhece nenhuma fanfic, mas você sabia que Cinquenta tons de Cinza era inicialmente uma fanfic de Crepúsculo? E que a saga de filmes e livros After era uma das muitas fanfics com o cantor Harry Styles que existiam na internet? Hoje em dia são franquias famosíssimas em Hollywood arrecadando milhões na indústria cinematográfica. Outro fato curioso pode ser observado na grande obra de Shakespeare, Romeu e Julieta, é na verdade uma fanfic! Ela foi baseada no poema de Arthur Brooke de 1582 chamado de "A trágica história de Romeu e Julieta”, Shakespeare alterou algumas coisas e deu seu próprio toque à obra. Hoje em dia sabemos que isso se chama fanfic, recriamos histórias que amamos desde muito antes da internet acontecer. Popularmente conhecidas como fanfics, as histórias criadas por fãs na internet, movimentam um mercado de milhões, After é baseada em um livro que explodiu com fenômeno global quando ainda era uma fanfic da banda inglesa One Direction, na plataforma Wattpad, em 2019 o filme chegou aos cinemas. A fanfic bateu 674 milhões de visualizações na plataforma, vendeu 11 milhões de livros físicos, e foi traduzida para 30 idiomas. No cinema, o primeiro filme rendeu 69 milhões de dólares, sendo o longa independente mais lucrativo de 2019, e o segundo filme da franquia estreou em 2020 e rendeu 50 milhões de dólares.
Os fãs sempre foram uma indústria lucrativa, seja para comprar discos, CD 's, ou reproduzir músicas na plataforma do youtube. E como tudo no universo dos fandoms, abreviação de fan kingdom, gera visualizações, engajamento e sucesso. Mas a maioria das fanfics são conhecidas apenas dentro da sua fanbase, só pessoas buscando por aquilo poderiam encontrar. Levando em consideração que qualquer pessoa pode escrever, produzir ou ler, e são disponibilizadas gratuitamente na internet, a quantidade de conteúdo desse gênero é enorme na internet e nos fóruns. Assim como a imaginação dos escritores abre um novo mundo para diversas crianças e adolescentes que usam a escrita e leitura como passatempo, ou até mesmo válvulas de escape da realidade. Em 2006 Henry Jenkins, publicou um livro chamado “Cultura da Convergência", onde ele explica sobre a relação de fã e produto, inovando como modo de produção de conteúdo é visto no mundo, Jenkins ainda explica como a transmídia, e a troca de informações no mundo digital se tornou algo concreto.
A introdução de mais conteúdo dentro de um universo é quase sempre presente nas fanfics. Os livros de Harry Potter são uma indústria multimilionária, tanto os livros, como os filmes, e os produtos com o bruxo são muito disputados e imersivos. É assim que o comunicólogo Jenkins explicou nos anos 2000 sobre a convergência midiática, onde os produtos não conseguem mais ficar presos em suas formas originais, os fãs querem escrever e contribuir, e eles podem. Livros que viram filmes, e depois séries, que tem fanfics na internet, fanarts e podcasts.
Fanfics são o pontapé inicial de muitos autores hoje em dia, não podemos falar de convergência e obras de fãs sem citar obras de extrema relevância dentro do mercado (e claro, Jenkins) que talvez tenham até mudado o jeito como muitas pessoas viam as obras escritas. É muito difícil falar de fanfics sem citar Star Wars e Harry Potter, duas das franquias onde os fãs mais lutaram, inclusive judicialmente, para poder contribuir e aumentar o universo, como a série Star Trek e projetos de Harry Potter, como o Profeta Diário, e claro, fanfics.
Foto: Beatriz Manzolino

Foto: Beatriz Manzolino
É também, a partir de textos na internet publicados de forma despretensiosa que muitos escritores iniciam suas carreiras, longos números de visualizações e milhões de comentários em suas obras, fãs e editoras publicando seus trabalhos, concretizando uma carreira. É assim que eu começo minha reportagem, sobre como as fanfics ajudaram escritores iniciantes.
Hoje em dia existe uma linha muito tênue entre o fã e o produto, e cada dia mais essa linha vem diminuindo. Com a internet, os fãs podem interagir, criar e adicionar coisas ao universo, por exemplo, as fanfics. As fanfiction são histórias criadas com base em algo que já existe, como um universo, personagens e até pessoas famosas. Em 2010 ocorreu uma explosão no mundo das fanfics, elas se tornaram populares, milhares de acessos e escritores iniciaram durante esse período. Escritora desde 2008 de fanfics no orkut, Gisele Castro em 2012 deu início ao seu trabalho mais famoso, uma obra interativa da banda inglesa One Direction.
“É uma liberdade que eu nunca tive” responde Gisele Castro, quando perguntada sobre o que as fanfics representam para ela. Por dois anos Gisele escreveu uma fanfic que marcou uma geração de meninas leitoras de ficção de fã com a banda inglesa One Direction, “500 days in London” é uma fanfic interativa escrita entre 2012 e 2013 e postada no site FanficObsession, posteriormente se tornou um livro de mesmo nome. No ano de 2021, Gisele escreveu o primeiro capítulo da continuação, “foi uma surpresa quando publicado porque para mim 500 days in London é uma história meio nostálgica que quase ninguém conhece, e quando entrou no site que já entrou no top 10 e um monte de gente foi ler, eu fiquei ‘gente? One direction nem existe mais?’ e eu achei o máximo", diz Gisele.

reprodução: Site FanficObsession 2021
Mas a história nasceu durante uma conversa de Gisele com a sua irmã, em uma das muitas madrugadas que as duas passaram conversando sobre histórias. "A primeira cena que tínhamos em mente foi dela vendo ele na London Eye, a personagem da fotógrafa vendo ele fazendo graça...eu lembro que essa conversa foi de madrugada, e eu não consegui dormir depois, eu pensava ‘essa cena precisa de um começo, eu preciso saber quem eles são'. Então foi a partir daí, essa foi a primeira cena, e aí eu comecei a desenvolver a história”. Mas como tudo o que é bom tem seu lado ruim, Gisele sofreu grandes ataques em redes sociais por conta da fanfic e os temas abordados nela, há 10 anos era muito raro se falar de assuntos polêmicos como bulimia e anorexia de maneira correta e responsável, conscientizar as pessoas era muito difícil, e retratar temas assim na vida diária, era mais difícil ainda: “quando o One Direction surgiu lá em 2010, eu lembro que fez um bum no twitter, e com a popularidade vem as problemáticas, que hoje não são mais as mesmas de 2012, hoje em dia se você solta uma besteira no twitter, muitas pessoas vão se sentir confortável em mostrar para você qual é a problemática. Em 2012 não tinha isso, você era massacrado no twitter, e essa é a essência da história...mudou muita coisa desde aquela época, e mudou para melhor, hoje a fotógrafa não sofreria tanto eu acho”.
Vídeo: Beatriz Manzolino
O fato de conversar com o público de uma maneira tão direta foi um dos itens que alavancou a escrita, mas infelizmente a vida pessoal de Gisele também foi afetada: “Eu publiquei a fanfic de 2012 à 2013, e em 2013 eu deletei meu twitter. Era uma coisa insana, eu estava recebendo ameaças sobre o que estava na história, gente falando que eu incentivava distúrbios alimentares, e eu não soube lidar com aquilo. Liguei para várias amigas autoras de outras fanfics, e todo mundo me disse “Gisele sai”. Eu desapareci do twitter de 2013 à 2017, eu saí porque me fazia mal, hoje em dia eu tenho um relacionamento saudável”. Tudo o que Gisele viveu nas redes sociais, não foi em vão, Gisele usou tudo pelo o que passava, mensagens que recebia e como se sentia, para deixar todo o enredo da fanfic ainda mais realista. Sempre que a personagem principal, a fotógrafa, sofria com cyberbullying e distúrbios alimentares, Gisele encontrava uma maneira de tocar o leitor e mostrar pelo o que ela passava, e muitas pessoas conhecidas pela mídia também: “eu fui no show da banda em 2013, na Take Me Home Tour, eu estava na Inglaterra fazendo umas coisas da faculdade e eu acabei indo, eu lembro que eu comentei que eu achei o Zayn muito sem graça no palco, ele não tinha presença. Após a saída dele da banda dá para entender porque ele era assim, mas eu lembro que eu comentei sobre isso no twitter e eu recebi ameaça de morte. ‘Vou pegar você e arrastar no asfalto para ver quem é a sem graça’, eu mostrava para minha irmã e ela ficava preocupada, claro, mas aí ela dizia “usa isso na fanfic” porque eles precisam saber que isso realmente acontece, não está só na ficção. Era assustador, eu abria meu twitter e tinha 30 notificações e nenhuma era boa, sei que é um número pequeno, mas comparado a mim que ninguém conhece, dá medo.”
Desde 2012, a fanfic 500 days in London se tornou um clássico quando se fala da banda One Direction. Ela continua na plataforma FanficObsession, e continua conquistando cada vez mais público, Gisele se tornou, sem querer, uma grande referência nacional. Durante o confinamento da pandemia, o mundo literário foi descoberto e redescoberto por milhares de pessoas, livros antigos voltaram para o topo dos mais vendidos, indicações foram trocadas no tiktok e twitter, vídeos com cosplays e point of view (pov) dentro de universos se tornaram sucessos em várias plataformas, e com isso, as fanfics também ganharam seu espaço. Os novos leitores ficam cada vez mais criativos, usando o exemplo de 500 days in London, a fanfic foi originalmente escrita com 5 integrantes do One Direction, mas também é possível ler com outras bandas, como McFly e até mesmo o BTS: “Porque para mim como escritora, não tem como ter outra pessoa ali no meio, ainda mais o personagem principal que eu me inspirei no Harry, então quando falam que leram com algum dos outros meninos eu já acho estranho, mas esses dias eu descobri que estavam lendo com o BTS, e mesmo faltando duas pessoas, porque no BTS são 7 e o 1D são 5 eu achei o máximo, mas eu já falei com várias meninas e sempre falo para lerem com o coração aberto e se lembrem que a fanfic é de 2012 hein, e minha escrita melhorou um pouquinho”, diz Gisele.
Vídeo: Beatriz Manzolino
Quando resolveu transformar em livro a fanfic, Gisele passou meses escrevendo e se adaptando ao novo estilo, tentando encontrar um jeito de manter a essência principal da obra. Com quase 200 páginas a menos do que a fanfic original, “500 dias em Londres” é um livro na estante de todo mundo que quer ter seu amor pelo One Direction e fanfics em versão física. Desde 2012 Gisele foi inspiração para muitas leitoras, algumas viraram suas amigas pessoais, outras deixaram belas declarações sobre a fanfic e o seu livro, até hoje ela é marcada em posts no instagram e recebe mensagens de carinho em seu grupo do Facebook.
Quando estamos crescendo é fato que precisamos ter o que se apoiar, precisamos de inspiração, de um lugar bonito para chegar. Existem milhares de crianças que gostam de escrever, que amam ler, e que usam isso como uma distração dos problemas do mundo real. Nas escolas, métodos de aprendizagem novos estão se tornando populares e se mostrando cada vez mais práticos, incentivando cada vez mais a escrita criativa professoras tentam trazer para dentro da sala de aula gostos da cultura dos alunos, pedindo redações sobre séries, livros e histórias que eles gostem. A introdução de materiais dos quais as crianças gostem e se interessem, junto com o incentivo de dissertar sobre elas, é um grande responsável pelo aumento de fanfics. Quando uma criança é forçada a ler ou escrever sobre algo que não gosta, é quase zero as chances dela ir procurar sobre o assunto depois. Mas é totalmente diferente quando ela escreve sobre algo que gostam e se interessam, querem fazer o melhor possível e buscar informações distintas para aprimorar as informações.
Adriana Fonseca, professora há 25 anos, nos conta que é nítido como as crianças gostam muito mais de escrever sobre a série que estão assistindo ou o livro que estão lendo no momento: “eles se interessam e querem explicar como aconteceu, porque aconteceu, trocam livros entre eles, é fofo...e muito perceptível a leitura e escrita de um adolescente ou de uma criança que tem o hábito de leitura e de uma que não tem” os tipos de leituras apresentadas para as crianças menores também estão mudando, antes livros eram impostos para leitura e os alunos consumiam por obrigação, um dos objetivos agora é mudar isso, deixar a criança interessada para poder ler. Livros como a coleção dos “Karas” do Pedro Bandeira, e “O mistério do 5 estrelas” do Marcos Rey, são dois queridinhos, onde os alunos pedem para as continuações serem passadas ao decorrer do ano letivo.

Foto Beatriz Manzolino
E assim, nascem muitos escritores e entusiastas das escrita. Quase todos os escritores tiveram alguém que os incentivaram, um professor, um mentor, ou uma tia que os dava livros. Gisele Castro, conta que quando entrou na faculdade cursando letras, teve um professor que ajudou e leu alguns capítulos da fanfic, dando dicas de como melhorar, e destaca também que cresceu em uma casa cheia de livros, onde sempre os devorava quando adolescente.
Você pode nunca ter ouvido falar sobre Jhuly Santana, mas seu username já foi parar nos toptrends do twitter Brasil várias vezes. Era só sair uma atualização de alguma fanfic dela que larrysmiling virava um dos assuntos mais comentados. Jhuly nunca pensou no sucesso que faria, e até hoje, quando pensa sobre seus 10 milhões de visualizações e comentários ela ainda fica um pouco assustada: “É muito bom, mas um pouco assustador porque saiu do meu controle, eu não sei mais o que falam nos comentários e na internet porque é muita coisa. Quando o público era menos eu tinha esse controle de olhar os comentários e ver que a galera estava curtindo, hoje em dia eu não tenho mais...é um pouco assustador, mas é bom, é muito bom, é uma conquista pessoal muito grande”, explica Jhuly.
Vídeo: Beatriz Manzolino
Jhuly diz que era uma fã incurável de Nicholas Sparks, lia todos os seus livros na adolescência e acabou se tornando uma romântica incurável, e foi desse hábito de ler romances que saiu a inspiração para a sua fanfic You’ve Forgotten, que foi baseada no livro “The Vow” do Nicholas Sparks, que posteriormente a levou para o hobby de escrita e felizmente, anos mais tarde à publicação de um livro.
Jhuly começou a escrever com 14 anos depois de ler fanfics do One Direction e querer fazer coisas tão legais quanto as que lia, sempre gostou e levou jeito para a coisa, quis seguir uma carreira na área de escritora, mas o sonho não se concretizou na época e ela acabou deixando isso como uma fase em sua vida. Jhuly explica que uma hora não escrevia mais por prazer, virou obrigação, o que a desmotivou muito na época. Saiu do mundo das fanfics e parou de escrever, anos mais tarde retornou aos poucos para onde seu coração mandava: fanfics. Publicou uma nova história em 2020 sobre o casal centro de suas fanfics Harry Styles e Louis Tomlinson, seu trabalho mais famoso se tornou livro e foi publicado por uma editora no meio de uma pandemia global.
Jhuly já leu muitas coisas ruins na internet, mas muitas boas também, já conseguiu ajudar muitas pessoas e receber vários depoimentos de diversos lugares. “Foi pesado, mas foi muito bom se eu pudesse voltar, eu voltaria. Eu conheci muita gente, tive muita oportunidade, e eu gostava de escrever foi uma coisa que me ajudou muito. Então mesmo que fosse difícil, os prós eram muito maiores do que os contras. Todo mundo gostava de ler, e eu de escrever e eu só fazia isso manhã, tarde e noite”, conta Jhuly.
Muitos outros autores e franquias estão incluídas quando falamos de ficção de fã, Neil Gaiman marcou seu nome no hall da fanfics quando escreveu a tão sonhada continuação para a história de Susana Pevensie, uma das protagonistas de As Crônicas de Nárnia, o conto intitulado “O problema de Susan” foi escrito muitos anos após as publicações originais dos livros de C. Lewis. Assim como as mídias se transformam de livros para contos, e depois para filmes e séries, ou se invertendo, existem também alguns que saem de jogos, como é o caso de The Witcher, a série de livros que se tornou jogos de videogame, e em 2019 uma série de sucesso na Netflix. Os jogos eram narrativas independentes da história dos sete livros originais escritos pelo autor polonês Andrzej Sapkowski nos anos 90. Os enredos dos jogos não são produzidos pelo escritor dos livros, e sim por um estúdio. Andrzej Sapkowski não considera os jogos como continuação dos seus livros, então aqui podemos considerar que os jogos da franquia também são uma espécie de fanfic. (para saber mais sobre jogos, clique aqui)
As traduções de fanfics é algo muito trabalhado nos sites, a democratização e acesso a conteúdos em diversas línguas influencia pessoas a possibilitar esse acesso, derrubando barreiras linguísticas. O exemplo usado aqui, é a fanfic de Harry Potter, publicada no AO3 em 2017, em inglês, a fanfic que descreve a vida dos marotos em Hogwarts já era famosa e muito acessada, mas durante a pandemia ficou muito famosa no aplicativo tiktok, ganhando várias webséries, cosplays e fanarts. Todos os trabalhos são disponibilizados gratuitamente na internet, a autora de “All the young dudes” também disponibilizou para quem quisesse imprimir suas próprias versões em casa, sem comercialização. As traduções já foram feitas para mais de 20 idiomas.

reprodução: site OA3/ 2021
Apoiar é um ato de depositar esperança em outra pessoa, acredito que muitos escritores e artistas já passaram pela fase de “será que consigo?”. Poder contar com um apoio é essencial em todas as fases da vida. Quando estamos na escola, professores são nossa maior base, que nos guiam por longos anos e ensinam tudo o que precisamos. Uma vez ou outra, um professor se destaca na vida dos alunos, alguém que ele sabe que pode tirar mais conhecimento. Quando falamos de métodos de sala de aula para crianças, muitos já são pré determinados nas apostilas, com metas que não são de interesse real dos alunos, o que os deixa desinteressados e mais distantes da matéria. Mas a situação muda completamente quando eles fazem algo que gostem, se envolvendo e dedicando mais para os exercícios propostos. “A gente sempre tenta ensinar um pouco mais, mas às vezes são eles que nos ensinam as coisas, é uma troca muito boa” diz a professora Adriana Fonseca. Hoje em dia, as crianças podem agregar dentro de sala de aula muitas informações que os professores não estão familiarizados. Todos temos histórias de vida e uma coleção de conhecimentos que é diferente dos outros, poucas pessoas passaram pelas mesmas experiências de vida que você, e se passaram, nem todo mundo absorve as coisas do mesmo modo. O que é ótimo, já pensou se todo mundo tirasse as mesmas coisas de todas as situações? O modo de raciocinar diferente faz com que essa troca entre os professores e alunos seja tão única dentro de sala de aula. O incentivo à escrita vem desde cedo na vida de muitas crianças, mas outras só descobrem o poder da escrita quando começam a desenvolver na escola, a professora Adriana destaca, com muito orgulho seus ex-alunos que hoje em dia tem seus livros publicados, e os que já participaram de concursos de escrita também.
Um livro muda a vida de uma criança, não é à toa que milhares de instituições fazem campanhas para promover a doação de livros infantis todos os anos. E é por doações de livros que a leitora e jornalista Isabela Oliveira, 21, faz suas contribuições para incentivar a leitura para outra pessoas: “eu quero que elas sintam as mesmas coisas que eu senti quando li...sei que alguns livros eu não vou mais gostar tanto se reler, as o sentimento da primeira leitura vai ficar para sempre comigo, depois que a gente amadurece a ideia, vai ficando mais fácil”. Isabela é daquelas meninas que tem sempre um livro de cabeceira e outros 20 esperando para ler, mas isso tudo começou pelas fanfics que lia online. Fanfics sobre famosos, sobre pessoas desconhecidas, e claro sobre romances. Duas das suas fanfics favoritas foram publicadas por editoras, assim Isabela tem o prazer de ter essas duas histórias que marcaram tanto ela, na sua estante em casa.
Livros independentes também estão se tornando muito comuns. A publicação muito mais rápida e o compartilhamento instantâneo é um dos muitos motivos que muitos jovens escritores resolveram publicar suas histórias pela Amazon como ebooks, por exemplo. A venda de ebooks, ou seja, livros online, disparou junto com a publicação deles, um dos fatores para leitores já acostumados em leituras em telas (como fanfics, que geralmente são online) facilita muito na venda de livros em formato ebook, um leitor acostumado a livros físicos terá um pouco de dificuldade em uma leitura online, por exemplo. Quando o ebook de um best seller custa por volta de 30 reais, um livro publicado de forma independente pode variar de 1,99 até 15 reais, o que é uma diferença gritante de valores.
Muitas histórias fantásticas saem desse meio de publicação, mais ágil, descomplicado e barato. Livros são considerados artigos de luxo em muitas famílias no Brasil, o preço elevado é um dos fatores que restringe cada vez mais o acesso a leitura, uma família que recebe um salário mínimo não tem condições de desfrutar de livros, por isso bibliotecas públicas doações de livros são tão importantes a democratização da leitura para todos, um país com uma boa educação é um país que lê, mas infelizmente no Brasil, ainda existem cerca de 11 milhões de pessoas que não sabem ler nem escrever.

Foto: Beatriz Manzolino
A imaginação é uma porta de entrada para fanfics, saber descrever e desenvolver um novo universo criado necessita de uma habilidade que poucos tem. A Professora Simone Vicalvi, diz que ainda precisamos caminhar muito para que tudo seja bonito como na teoria.
Como já explicado, o ser humano refaz técnicas e aperfeiçoa os seus costumes desde muito cedo, pintores aprimoraram técnicas ao passar das décadas. Walter Benjamin, 1955, diz que quando se reproduz uma obra de arte, ela deixa de ser única e perde sua essência. Será que tanto anos depois o pensamento ainda é o mesmo? Sabemos que muitas obras famosas foram derivadas e inspiradas por outras, e o que seria dos artistas sem referências e inspirações? Anos depois, Jenkins nos apresentou diversas ideias sobre convergência e transmídia em seu livro, quem dera Jenkins já soubesse sobre streamings, vídeo e a internet como é hoje naquela época.
As fanfics, deixaram de ser apenas um hobbie e se tornaram uma coisa séria para muitas pessoas, abrindo oportunidades no mercado de trabalho, gerando empregos e experiência, algo que começou como uma distração e brincadeira, se torna algo real e importante para milhões de pessoas. Mas claro, sem deixar de ser mágico e fantástico, sem deixar de ser um escape do mundo real. Com internet e imaginação, é possível criar, e recontar, mundos incríveis. Com as pontas dos dedos no teclado de um computador, o ato de digitar se torna muito mais do que apenas juntar palavras, se torna um novo meio de comunicação na cultura popular, passada em compartilhada na aldeia global (graças a internet) uma nova maneira de passar contos e recontos, como foi feito por séculos através da fala e escrita no folclore. Fanfics são a prova de que o ser humano é capaz de se reinventar cada vez mais.